Quarta mesa de debates: Monstros e outros medos

Débora Ferraz, Julián Fuks, Mario Corso, Mário Rodrigues e Michel Laub discutem o medo

";;Viver é muito perigoso”. A frase escrita em 1956 por João Guimarães Rosa na obra “Grande Sertão: Veredas” nunca foi tão atual.  E é por isso que, em sua 16ª edição, cumprindo sua característica de fazer a literatura dialogar com a atualidade, a Jornada Nacional de Literatura propõe uma discussão sobre o medo. A mesa “Monstros e outros medos colecionáveis”, que acontece no dia 6 de outubro, na última noite da Jornada, reunirá os escritores Débora Ferraz, Julián Fuks, Mario Corso, Mário Rodrigues e Michel Laub em torno de um debate sobre o estado de espírito atual que parece ser comum a todos os moradores das grandes e pequenas cidades: a sensação de medo que domina as pessoas em casa, nas ruas, no trabalho e até mesmo na política.

Desde que Guimarães Rosa escreveu “Grande Sertão: Veredas”, a sensação de insegurança frente aos perigos que cercam a sociedade se ampliou. Mesmo 60 anos depois, viver continua sendo perigoso. “Essa sensação de medo se relaciona aos constantes riscos aos quais nos submetemos, ao mesmo tempo ampliada por uma espécie de obsessão pela segurança. Alguns medos, que desde tempos imemoriais não conseguimos nem mesmo nomear, se transformam em figuras e essas figuras são os monstros”, explica um dos coordenadores da Jornada, professor Miguel Rettenmaier. 

Os monstros, conforme lembra o coordenador, nos conceitos mais antigos, eram prodígios, meio humanos, meio animais de aparência feroz, e tinham uma conduta profética, como enunciadores contra eventuais malfeitos que desobedecessem a aliança entre deuses e homens. “Interessa saber que mesmo nos assustando, os monstros nos seduzem. E isso se dá pelo fato de que quase todos eles são guardiões de segredos. Em outras palavras: enfrentar monstros e vencê-los recompensa com a descoberta de algum mistério”, comenta. 

Em outras palavras, como explica a também coordenadora da Jornada, professora Fabiane Verardi Burlamaque, a palavra monstro, etimologicamente, está ligada a um sinal do que está por vir, a um presságio ou uma advertência. “Sua monstruosidade está no que nos espera e em nossa assustadora impotência perante o destino. Falar, contudo, sobre medos, não tem relação apenas com nossos temores individuais: a história como destino humano está cheia de monstruosidades”, ressalta. Para a coordenadora, o medo é um tema que está em evidência na atualidade. “Como diz Zygmunt Bauman, convivemos com diferentes medos: da violência urbana, do terrorismo, de catástrofes naturais, do desemprego, de epidemias, da solidão, da exclusão”, completa. 

Durante a Jornada, esses monstros tornam-se também colecionáveis. Segundo Rettenmaier, o termo se refere a objetos, camisetas, bonecos, bustos, réplicas e todo tipo de produto que responde a um fetiche despertado por alguma produção da indústria cultural. “Associado ao tema da noite, aos monstros e medos, o colecionável tem relação com um acervo de inseguranças que guardamos em nossa subjetividade, em nossa família, na sociedade”, lembra.  

Diferentes medos
Para falar sobre essa temática, foram convidados escritores que trabalham medos e monstros em suas obras das mais diferentes maneiras. O psicanalista e autor da obra Monstruário, Mario Corso, é, de acordo com Fabiane, o especialista no tema. “Débora Ferraz e Mário Rodrigues são os vencedores do prêmio Sesc de Literatura. “Mário Rodrigues tem um livro chamado ‘Receita para se fazer um monstro’, no qual narra a construção de um sujeito desprovido de humanidade a partir de experiências dolorosas na infância, principalmente na família”, conta Rettenmaier. 

Já Julián Fucks, vencedor do Prêmio Jabuti em 2016, na obra “A resistência”, apresenta os  regimes autoritários como monstros e fala sobre a forma como essas relações opressoras repercutem na intimidade das relações afetivas e familiares. Michel Laub traz, em O tribunal de quinta-feira”, os terrores da contemporaneidade. “Na obra de Laub, a intimidade mostra-se facilmente devassada no universo das redes sociais e o nosso corpo é algo que pode ser facilmente violado por um mal ainda sem cura”, finalizou Fabiane. 

Lirinha fará show na Jornada
Também na noite do dia 6 de outubro acontece o show Poesia Eletrônica, com o músico, poeta e escritor pernambucano Lirinha. Num recital solo, Lirinha apresenta poesias faladas ao vivo com elementos pré-gravados, disparados por meio de um sampler. No repertório, além das próprias composições, textos de Manoel Filho, Pinto do Monteiro, João Cabral de Melo Neto, Micheliny Verunschk, Waly Salomão e Alberto da Cunha Melo.

Sobre as Jornadas Literárias
A 16ª Jornada Nacional de Literatura e a 8ª Jornadinha Nacional de Literatura são promovidas pela Universidade de Passo Fundo (UPF) e pela Prefeitura de Passo Fundo. Os eventos contam com os patrocínios da Ambev, do Banrisul, da Corsan, da Companhia Zaffari & Bourbon, da Fapergs, da Ipiranga, da SulGás, da Triway e da TechDEC; com o apoio cultural da BSBIOS e do Sesi; patrocínio promocional da Capes, Italac e Oniz; com a parceria cultural do Sesc; financiamento do Governo do Estado – Secretaria da Cultura – Pró-cultura RS LIC e realização do Ministério da Cultura.

As inscrições para a Jornada e para a Jornadinha estão abertas e são limitadas. Para a Jornada, o público pode se inscrever tanto para o evento completo quanto para apenas uma das noites. Os interessados devem se inscrever no portal www.upf.br/16jornada. A programação completa também está disponível no site da Jornada. Informações podem ser obtidas pelo e-mail jornada@upf.br ou pelo telefone (54) 3316-8368.

Sobre os autores da mesa “Monstros e outros medos colecionáveis”: 

Débora Ferraz
Débora Ferraz é escritora e jornalista. Seu primeiro romance, “Enquanto Deus não está olhando”, foi vencedor da 10ª edição do Prêmio Sesc de Literatura e do Prêmio São Paulo de Literatura na categoria autor estreante com menos de 40 anos. Trabalha atualmente em seu segundo romance e cursa doutorado em escrita criativa na PUC-RS.
Obra indicada: Enquanto Deus não está olhando

Julián Fuks
Paulistano nascido em 1981, Julián Fuks é autor de “A resistência”, livro do ano de ficção no prêmio Jabuti de 2016 e segundo lugar no prêmio Oceanos, e de “Procura do romance” e “Histórias de literatura e cegueira”, ambos finalistas dos mesmos prêmios. É doutor em teoria literária pela USP, e já escreveu na Folha de S. Paulo e nas revistas Entrelivros e Cult. Livros e textos seus já foram traduzidos para seis línguas e publicados em dez países. Em 2012, foi eleito pela revista inglesa Granta como um dos ";;melhores jovens escritores brasileiros";;.
Obra indicada: A resistência 

Mário Corso
Mário Corso é psicanalista, membro da APPOA. Psicólogo pela UFRGS. Em 2002, lançou “Monstruário – Inventário de Entidades Imaginárias e de Mitos Brasileiros”, pela editora Tomo, livro pelo qual recebeu a Menção Honrosa do Jabuti. Publicou “Fadas no Divã: psicanálise nas histórias infantis”, em 2005, e “Psicanálise na Terra do Nunca: ensaios sobre a fantasia”, em 2010, ambos pela editora Artmed, junto com Diana Corso. Em 2014, publicou “A história mais triste do mundo”, pela editora Bolacha Maria, e recebeu, por essa obra, o Prêmio Açorianos de Literatura Infantil de 2015. Publica artigos, ensaios e crônicas em Zero Hora e em diversos meios de comunicação.
Obra indicada: Monstruário. Inventário de entidades imaginárias e de mitos brasileiros

Mário Rodrigues
O pernambucano Mário Rodrigues é pós-graduado em língua portuguesa e leciona português, literatura e redação. Em 2016, venceu o Prêmio Sesc de Literatura com o “Receita para se fazer um monstro”, coletânea de contos que transporta o leitor à infância dos anos 1980. O conjunto de brincadeiras e descobertas compõe um quadro trabalhado entre a dureza e a ironia, o que nos remete à própria origem da brutalidade que reside na alma dos personagens. Esse retrato cruel dialoga com os nossos dias, evidenciando as pequenas violências que existem em cada um de nós.
Obra indicada: Receita para se fazer um monstro

Michel Laub
Nasceu em Porto Alegre, em 1973, e vive hoje em São Paulo. É autor de sete romances, entre eles “Diário da Queda” (2011) e “O tribunal da Quinta-Feira” (2016). Seus livros foram publicados em doze países e nove idiomas, além de receber diversos prêmios no Brasil e no exterior. 
Obras indicadas: O tribunal da quinta-feira, A maçã envenenada, Diário de queda

Por Assessoria de Imprensa UPF

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Atualizado em 22 de setembro de 2017.