Prefeitura homenageia mulheres que fazem história na cultura

No Dia Internacional da Mulher, seis mulheres que constroem uma trajetória inspiradora no setor cultural de Passo Fundo receberam a Comenda Anna Theodora

No Dia da Mulher, lembrado nesta terça-feira, 8 de março, a Prefeitura de Passo Fundo enalteceu a atuação de mais seis mulheres com a Comenda Anna Theodora. A condecoração municipal, que valoriza a contribuição de mulheres na história do município, neste ano, foi entregue a protagonistas do setor cultural.

Durante evento, promovido pela Secretaria de Cultura no Complexo Roseli Doleski Pretto, o prefeito, Pedro Almeida, falou sobre a relevância da homenagem. “Oito de março é um dia de fortalecermos a luta pela garantia dos direitos das mulheres. Por isso, o Município utilizou a data para a implementação do Fundo Municipal de Amparo às Mulheres Vítimas de Violência. Nesta data, também devemos reconhecer a atuação das mulheres em diferentes frentes sociais e, com a comenda, enaltecemos aquelas que se tornaram grandes referências”, considerou.

A secretária de Cultura, Miriê Tedesco, enfatizou que este é o segundo ano em que a condecoração é entregue. “No ano passado, a comenda foi destinada a mulheres que, pela primeira vez, ocupavam cargos que, até então, eram absolutamente masculinos. Neste ano, buscamos mulheres em atividades culturais por antiguidade, mulheres que construíram parte importante do que temos na música, nas artes visuais e na cultura popular e que merecem, portanto, o reconhecimento público. Essa segunda edição nos orgulha muito, pois confirma o desejo do governo municipal de que essa seja permanente de valorização das mulheres de Passo Fundo”, afirmou.

Mulheres homenageadas
Maria Teresinha Fortes Braz – Música
Maria Teresinha Fortes Braz contabiliza 56 anos de dedicação à música e aos corais que criou ou por onde passou. Ela, que adorava cantar e sempre fora apaixonada por piano, tem uma trajetória intensa na música.
Incentivada pelos pais, Moacyr da Motta Fortes e Emma Fauth Vargas Fortes, aos sete anos, ganhou seu primeiro piano, de brinquedo. Com oito anos, começou a estudar o instrumento na sua residência e ingressou, posteriormente, no Conservatório de Música. Estudou piano durante 10 anos, concluindo o curso fundamental do instrumento aos dezoito anos. Foi na formação escolar e nas aulas de música que passou a ter o desejo de se tornar regente e cantora e quando iniciou aulas particulares de canto e teve o primeiro contato com corais.

Graduou-se no Curso Superior de Educação Musical e fez o bacharelado em Canto na Universidade de Passo Fundo. Em 1966, foi designada para ministrar música na Escola Anna Luíza Ferrão Teixeira. Lá, formou seu primeiro coral infantil como maestrina e, desde então, não mais parou, formando coros nas escolas onde trabalhou e em diversos grupos da comunidade passo-fundense e da região. Regeu o Coral Universitário de Passo Fundo por dois anos, o Coral Universitário UPF de Carazinho durante 12 anos, o coral Creati UPF de Passo Fundo por duas décadas e o coral Creati UPF de Lagoa Vermelha por sete anos, sendo os três últimos criados e organizados por ela.

De 1989 até hoje, está na regência do Coral da Catedral Arquidiocesana Nossa Senhora Aparecida e, de 1993 até 2018, foi maestrina do Coral Ricordi D’Itália, quando espontaneamente passou a regência, permanecendo como cantora até o momento, além de ativa participante, ex-presidente e atual secretária da Cultura Artística de Passo Fundo.

Teresinha Vargas (Zóca) – Música
A maestrina e professora Zóca Vargas. É Formada pela Universidade de Passo Fundo com Bacharelado em Piano, Licenciatura em Música Pura e Educação Musical. Especializou-se em Regência Coral Infantil e Musicalização na URGS - Porto Alegre -, em Regência Coral Adulto na UFRJ - Rio de Janeiro - e PS Especialista na UNB – Brasília.

Fundou e regeu mais de 40 corais, entre infantis e adultos, bem como orquestras de flauta e percussão nos estados do Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná. Fundou, em 1992, a sua escola de música, espaço que ainda dirige e em que segue sendo professora de Regência Coral, Piano, Musicalização, Teclado, Canto Popular, Canto Coral, Didática da Música e Musicoterapia.

Foi professora especialista em música com 25 anos de trabalho pelo Estado do Rio Grande do Sul, produtora e apresentadora do Programa “Arte e Cultura”, da TV Passo Fundo, durante dois anos, professora de Criatividade em Música, Regência Coral, flauta, Canto, Técnica Vocal, Canto Coral na Universidade de Passo Fundo por nove anos.

Foi fundadora e é maestrina da Associação Artística Coral Madrigal de Passo Fundo há 28 anos, com o qual produziu e gravou 03 CDs com Músicas Folclóricas, Natalinas e Sacras Eruditas. Também é fundadora e maestrina do Coral Santa Cecília, da cidade de Marau, e, durante 19 anos, inicia a Direção e Produção Musical de um CD com músicas italianas.

Maria Lucina Busato Bueno – Artes Visuais
Maria Lucina Busato Bueno é pintora, arte-educadora e pesquisadora com pós-graduação em Arte, Teoria e Métodos pela Universidade de Passo Fundo. Exerceu o Magistério Publico Estadual em Passo Fundo por 26 anos. Atuou, durante 27 anos, como docente nas disciplinas de pintura na Faculdade de Artes e Comunicação da Universidade de Passo Fundo. As pinturas com tintas tradicionais foram importantes no curso de formação acadêmica e na docência, nas disciplinas de pintura Educação Artistica e Bacharelado da FAC-UPF.

Quanto às tintas naturais, foi no pátio de infância que aconteceram as primeiras experiências com cores e espaço que ela considera seu primeiro atelier. Tais experimentos permaneceram latentes e importantes no seu processo de pintura futuro. Então, em 1982, surge a pesquisa com pigmentos naturais da região de Passo Fundo para a produção de tintas alternativas para uso artístico e didático, valorizando as cores do meio ambiente. Muitos testes, com nova maneira de pintar tiveram como resultado a pesquisa “Vivências do fazer pictórico com tintas naturais”.

Entre inúmeras premiações e exposições estaduais, nacionais e internacionais, destaca as seguintes individuais na cidade: percurso poético das cores, 40 anos de arte – MAVRS; Cores de Maria Lucina: paisagens – SESC Passo Fundo; Cores que vêm da natureza: resultado da pesquisa – FAC-UPF; Do real ao imaginário – Centro Administrativo da UPF.

Atualmente, dedica-se à pintura no seu atelier, tendo como referência Figura Humana e Natureza. Ela Enfatiza que “a arte constrói, a arte sensibiliza, a arte humaniza. Gestos, palavras, sons, movimentos, nas mais diversas formas, artesanal, tradicional ou tecnológica são linguagens expressivas de nossa cultura, sabendo-se qua pintura é a arte da cor, linguagem não verbal de grande beleza e significado”.

Ledir Bernardes - Costura
Ledir de Souza Bernardes iniciou o seu ofício de costureira aos 15 anos, em um curso no Sesi. Logo depois, durante cinco anos, passou a trabalhar e a ter o seu aprendizado aprimorado. Ao decidir ser autônoma, começou a fazer vestidos de prenda e trajes sociais masculinos e femininos. Nos últimos 30 anos, ela se dedica às pilchas gauchescas e a trajes para prendas e peões e já indumentárias para muitos grupos de danças de CTGs de Passo Fundo e região, contabilizando milhares de peças confeccionadas em 55 anos de trabalho.

Maria de Lourdes Campos Isaias - Cultura
Maria de Lourdes Campos Isaias é formada no curso de Magistério pela Escola Normal Oswaldo Cruz (ENOC). Em 1962, iniciou suas atividades como professora e, assim, deu início à sua trajetória na inclusão da cultura negra na cidade de Passo Fundo e no estado, fazendo estudos e divulgando os conhecimentos como pesquisadora da Cultura Afro-brasileira, tendo sua monografia “O Negro e sua Contribuição a Passo Fundo” estudada e pesquisada até os dias de hoje por inúmeros estudantes em conclusão de suas teses de formações acadêmicas.

Junto com seu esposo, professor e jornalista Edy Isaias, iniciou seu trabalho social na Sociedade de Difusão e Cultura Visconde do Rio Branco nos anos 60, tendo carnavais, bailes, confraternizações e festas com a participação de famílias negras e a sociedade em geral.

Foi uma das fundadoras do Movimento Negro em Passo Fundo, em 1987, e grupos culturais como Zumbi dos Palmares, Confraria de São Miguel – Grupo Alforria, entre outros. Foi Secretária da 1ª formação da Frente Negra Nacional, representando o estado do Rio Grande do Sul nos anos 90, atingindo a população negra. Foi diretora da Cultura na cidade de Passo Fundo, participando dos projetos “Guri” e “Bombeiro Mirim” em meados dos anos 2000, atingindo as crianças e jovens em formação. Dando continuidade ao seu trabalho, foi a primeira Coordenadora da Igualdade Racial em Passo Fundo, valorizando e divulgando o uso e costumes das diferentes etnias que compõem a região.

Dalva Machado Bisognin - Literatura
Dalva Machado Bisognin atuou como professora de Português, Literatura e Redação por 34 anos na Universidade de Passo Fundo. Também lecionou no Colégio Marista Conceição e no Instituto Estadual Cecy Leite Costa. Junto ao Colégio Marista Conceição , realizou com alunos do terceiro ano do ensino médio, por dez anos, a Mostra da Cultura Sul-rio-grandense em homenagem às etnias formadoras do Rio Grande. Já no Instituto Estadual Cecy Leite Costa, coordenou concursos de oratória, teatro e declamação. Em 1997, recebeu título de educadora emérita de Passo Fundo, ato realizado em Sessão Solene realizada antes da abertura de uma das edições da Mostra da Cultura Sul-rio-grandense.

Seu envolvimento na Coordenação das Pré-jornadas de Literatura/UPF levaram-na a participar da Comissão organizadora da Feira do Livro de Passo Fundo, atividade pela qual se apaixonou e dedicou mais de 15 anos, a princípio como integrante da organização e, durante vários anos, na coordenação geral do evento. História de muito trabalho, desafios e barreiras ultrapassadas que fizeram com que a Feira do Livro de Passo Fundo chegasse ao patamar alcançado, sendo um dos principais eventos literários de nossa cidade.

Quem foi Anna Theodora de Oliveira Rocha (1858-1941)
A fim de dar relevância histórica à homenagem feita para as mulheres, a Secretaria de Cultura buscou, junto ao Instituto Histórico de Passo Fundo (IHPF), pesquisas sobre mulheres que representaram pioneirismo na história da cidade, chegando, então ao nome de Anna Theodora.
Conhecida como Inharica, Anna nasceu no ano de 1858. Foi proprietária de terras e trabalhou com a criação de mulas. Casada com Diogo da Silva Rocha, nascido em 12 de novembro de 1845, foi a primeira mulher a atuar como líder política em Passo Fundo. Foi membro da comissão do Centro Republicano Liberal e presidente honorária do Grêmio Feminino Liberal, fundado em 1934. Inharica faleceu em 12 de setembro de 1941.